Errar faz parte do sucesso das empresas
Empreendedores compartilham experiências válidas que acumularam cometendo grandes equívocos
Zach Clayton notou que sobrecarregava seus clientes com informações que eles não tinham condições de processar.
Nuno Gomes
Errar faz parte do processo de abrir uma empresa.
Pode
acontecer com qualquer um — até mesmo com alguém que tem uma grande
ideia e uma sólida compreensão de como fundar uma empresa. Às vezes, o
empreendedor comete um engano simples do qual é fácil se recuperar.
Outras, porém, os erros são tão graves que afundam o projeto ou então
exigem muito dinheiro, tempo e angústia para serem desfeitos.
Veja
o caso de Michelle Galligan, diretora-presidente da ViaVero, uma
consultoria de contabilidade em Columbus, no Estado americano de Ohio,
que cometeu diversos equívocos no primeiro ano da empresa. Ela fundou a
firma sem ter um plano de negócios. Trouxe oito sócios sem conversar
sobre o papel que eles queriam assumir. Ela distribuiu 80% do capital
social "a preço de banana". E gastou US$ 100.000 num escritório que não
ficava perto dos seus clientes.
Quando
as coisas ficaram difíceis, ela arregaçou as mangas e reestruturou
totalmente a empresa: elaborou um plano de negócios, eliminou alguns
sócios, recomprou ações e mudou a firma para um local mais próximo dos
clientes. Em 2009, segundo a executiva, a receita alcançou US$ 1 milhão e
continua crescendo.
Por mais graves que
sejam os erros, os proprietários saem deles com lições duramente
aprendidas. Perguntamos a alguns sobre os equívocos que cometeram e o
que aprenderam com eles. Aqui estão algumas das suas melhores e mais
doloridas histórias.
Não se esqueça da sua esposa
Matthew
K. Stewart diz que se esqueceu de algo fundamental enquanto criava sua
empresa de construção civil: os sentimentos de sua esposa.
Enquanto
viajava muito a negócios, "minha esposa ficava em casa, cuidando das
nossas duas crianças pequenas", diz Stewart, um dos fundadores da
empresa de consultoria National Services Group, em Irvine, na
Califórnia. "Após o trabalho eu ia comer em bons restaurantes, tinha
aventuras extraordinárias, do tipo que só se tem uma vez na vida, e
passava horas com algumas das pessoas mais interessantes do mundo. Minha
mulher não fazia parte de nada disso, e começou a se ressentir de me
ouvir falar a respeito."
As coisas
ficaram mais tensas depois que o casal começou a enfrentar problemas
financeiros e precisou apertar as despesas de casa. Um dia, depois que
Stewart mandou uma foto de Cingapura para a esposa, Jill, ela lhe disse:
"Enquanto você está se divertindo pelo mundo, comendo filé mignon no
Ritz-Carlton, eu estou presa em casa comendo macarrão com queijo com
seus filhos". Ele conclui: "Percebi a discrepância dos nossos estilos de
vida no mesmo instante e prometi a mim mesmo garantir que minha esposa
tivesse o mesmo estilo de vida que eu".
"Podemos
mandar nossa cara-metade para jantar com as amigas, podemos apoiá-la
para que vá assistir um jogo ou praticar um esporte. Podemos ajudar a
inventar passeios e viagens de fim de semana para ela se temos recursos
para isso."
Entenda seus clientes
Se Zach Clayton pudesse fazer tudo de novo, trataria de conhecer melhor seus clientes desde o início — trabalhando para eles.
Quando
ele lançou a Three Ships, firma de marketing digital de Raleigh, no
Estado da Carolina do Norte, passava muito tempo apresentando aos
clientes análises altamente detalhadas que mostravam como a sua empresa
proporcionava bons retornos aos investimentos. Ele teve então uma
experiência que lhe abriu os olhos, quando um cliente lhe ofereceu um
cargo de diretor interino de marketing.
"Eu
não fazia ideia de como essa função é agitada e avassaladora. Você faz
reuniões de gestão que são verdadeiras maratonas. Discute com o líder de
vendas sobre as metas corretas. Contrata uma nova empresa de relações
públicas para a Costa Oeste", diz. "Percebi que os clientes estão muito
ocupados resolvendo outros problemas e não podem mergulhar em três
níveis de profundidade para entender todo o trabalho técnico que
fazemos."
Desde então, ele simplificou
sua maneira de lidar com os clientes, de modo a lhes poupar o máximo
possível de tempo e atenção. "Se você está iniciando um negócio para
atender a outras empresas, não comece antes de passar entre um mês e
três meses trabalhando no escritório do seu novo cliente."
Gastar dinheiro é necessário
Bob
Bernstein, fundador da Bongo Productions LLC, tentou seguir o caminho
mais barato ao abrir seu primeiro café em Nashville, no Tennessee, em
1993. "Essa iniciativa própria foi ótima e me ensinou muitas maneiras de
economizar. Mas isso também significou que precisei comprar de novo
muitos equipamentos e consertar as coisas depois", diz. "Por exemplo,
comecei usando louças de qualidade residencial, mas quebraram logo.
Também economizei dinheiro fazendo sozinho uns serviços básicos de
carpintaria, construindo prateleiras, mesas e muretas. Tudo isso logo
começou a despencar das paredes, desmontar ou lascar, e teve que ser
refeito".
Não dedique muito tempo a pequenas coisas
Antes
de Clifford Holekamp fundar sua rede de centros médicos de podologia, a
Foot Healers, baseada em St. Louis, no Estado de Missouri, ele vinha
pensando em como administrar melhor uma firma. "No início, eu cobrava
dos funcionários os mínimos detalhes, incluindo despesas com materiais
de escritório, uso pessoal da internet e desligar as luzes", diz.
"Como
eu monitorva essa enorme lista de medidas de desempenho, os empregados
realmente não se concentravam nem se destacavam em nenhuma delas", diz.
Ele decidiu então se concentrar apenas em questões importantes, como
métricas de faturamento e satisfação do cliente.
"É
verdade que os funcionários acabaram escorregando um pouco nas
minúcias, mas melhoraram nas métricas que são muito mais impactantes",
diz.
Confiar, mas verificar
Quando
Natacha Beim, fundadora das escolas CEFA Early Learning, do Canadá,
contratou um empreiteiro para construir sua primeira escola, há 17 anos,
escolheu uma empresa recomendada por uma grande construtora. Mas ela se
arrependeu de não pesquisar melhor o histórico do empreiteiro. Ele
aceitou projetos demais e parou de vir trabalhar, deixando-a no meio do
caminho, com a construção inacabada, e atrasando a inauguração por
vários meses. Ela não teve escolha a não ser contratar outra equipe de
construção no meio do projeto. Isso lhe custou vários meses de aluguel,
assim como a maioria de seus clientes e ainda US$ 150.000 a mais em
custos de construção.
Natacha Beim perdeu dinheiro por não investigar o histórico de um empreiteiro.
Stuart Gradon
Vender, vender, vender
Saad
Shah esqueceu algo nos primeiros dias após fundar a Metric-X LLC,
desenvolvedora de software personalizado de Rochester, em Michigan: "As
vendas são a alma do negócio. Procure sempre vender."
"Quando
estávamos ocupados com diversos projetos, nos focávamos quase
exclusivamente em garantir que eles fossem concluídos com êxito. Isso
foi um erro, porque abandonamos a tarefa de encontrar, de maneira
proativa, outros projetos para o futuro. Quando terminavam os projetos
que nos mantinham ocupados, não tínhamos outros na fila. É por isso que é
fundamental estar sempre fazendo prospecção [de clientes] e vendendo
nossos serviços ."
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