OS ELEMENTOS E PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO NA TEORIA CLÁSSICA

Em meados da II Revolução Industrial, no ano de 1916, o engenheiro Henry Fayol, nascido em Constantinopla e naturalizado na França, apresentou sua proposta de uma doutrina administrativa. Na ocasião, o autor justificou seus estudos com o objetivo de “facilitar a gerência de empresas, sejam industriais, militares ou de qualquer índole. Seus princípios, suas regras e seus processos devem, pois, corresponder tanto às necessidades do exército como as da indústria” (1990, p. 10).
          No então intitulado Administration Industrielle Générale o autor expôs suas experiências adquiridas na Camambault, indústria mineira metalúrgica, com intuito de instituir a administração não como um privilégio pessoal e sim uma “função que se reparte, como as outras especiais, entre a cabeça e os membros do corpo social” (1990, p. 26).
Embora Fayol tenha defendido tal idéia, faz-se necessário enfatizar o descompasso entre essa repartição, uma vez que a inferia agregada a uma hierarquização de responsabilidades, ou seja, aludia que a capacidade administrativa aumentava na medida em que se aproximava ao ápice piramidal, sendo essa capacidade inversamente decrescente.
     Portanto, as conclusões de Fayol, concernentes ao estudo das capacidades, são evidenciadas a partir da asseveração que “em toda classe de empresa, a capacidade principal dos agentes inferiores é a capacidade profissional característica da empresa, e a capacidade principal dos grandes chefes é a capacidade administrativa” (idem, p. 36), formando uma pirâmide que representa ao mesmo tempo o crescimento hierárquico conjugado ao aumento proporcional da capacidade administrativa em detrimento da capacidade técnica, ao passo que o fenômeno é inversamente o contrário.
     Com autoridade, Fayol valorizou a necessidade do ensino da administração desde as escolas primárias ao ensino superior; defendendo a aplicabilidade desses conhecimentos não somente em empresas, mas na vida. Enfatizando a importância da administração perante as demais funções das organizações, ressaltando, todavia, que uma não existe sem a outra, havendo a interdependência entre as funções, a saber:
1º Funções Técnicas: relacionam-se com a produção, fabricação e transformação.
2º Funções Comerciais: estão ligadas as compras, vendas e permutas;
3º Funções Financeiras: estão conectadas a captação e gerência de recursos.
4º Função de Segurança: refere-se a proteção de bens e de pessoas.
5º Funções Contábeis: direciona-se a elaboração de inventário, balanços, preços de custos, etc.
6º Funções Administrativas: previsão, organização, comando, coordenação e controle.
     Para que uma empresa assegure o desenvolvimento dessas seis funções, ou operações, fazem-se necessária a combinação de algumas condições, de algumas normas ou regras, no entanto sem o caráter rígido que traz a semântica destas palavras, pois em matéria administrativa, deve-se lançar mão de atitudes comedidas e adequadas a cada situação, visto que “a exata avaliação das coisas, fruto do tato e da experiência, é uma das principais qualidades do administrador” (FAYOL, 1990, p. 43).
     Por conseguinte, quando esse cientista se referiu aos princípios da administração, não foi restringindo-se ao significado estrito da palavra, mas sim com o sentido de diretrizes fundamentais para que se fortalecesse o instrumento administrativo e facilitasse o funcionamento do corpo social, até mesmo pelo fato de não haver um número determinado de princípios, porquanto citou apenas quatorze aplicados amiúde, tais como a divisão do trabalho; a autoridade e responsabilidade; a disciplina; a unidade de comando; a unidade de direção; a subordinação do interesse particular a um interesse geral; a remuneração do pessoal; a centralização; a hierarquia; a ordem; a equidade; a estabilidade do pessoal; a iniciativa; a união do pessoal.
       Em virtude dos princípios da administração não terem caráter finito e único, não há um consenso geral entre os autores da temática, dependendo a adoção destes do ambiente em que os administradores estão inseridos. Portanto, é essencial ter ciência dos fundamentos de outro expoente da Escola Clássica que também enumerou os princípios da administração. Trata-se de Frederick Winslow Taylor, engenheiro americano, precursor da Teoria Científica da Administração, a qual enfatiza as tarefas executadas pelos operários, buscando a eficiência das organizações por meio da padronização e racionalização do trabalho. No entanto, seus princípios foram representados em um número reduzido, compondo-se do desenvolvimento de uma verdadeira ciência; seleção científica do trabalhador; sua instrução e treinamento científico; e cooperação intima e cordial entre a direção e os trabalhadores (TAYLOR, 1990).
      O antagonismo presente nas referidas obras – Administração Industrial e Geral e Princípios da Administração Científica – evidencia-se principalmente no que tange a unidade de comando. Enquanto Fayol concentra a responsabilidade em um único chefe direto sem possibilidade de dualidade de comando, Taylor divide as responsabilidades dos chefes em até nove supervisores por acreditar que “o trabalho de direção deve ser subdividido de tal maneira que as diversas funções sejam desempenhadas por homens dessa capacidade” (TAYLOR, 1990, p.94).
      A Teoria da Administração Científica almeja o avanço da eficiência no nível operacional por meio do enfoque nas tarefas, com uma abordagem de forma ascendente, isto é, da base (operários) para o ápice (gerentes) e das partes (operários e cargos) para o todo (organização); ao passo que a Teoria Clássica (normativista) enfatiza a estrutura e sua abordagem é descendente, ou seja, da direção para os executores e do todo (organização) para as suas partes componentes (departamentos), portanto busca o aumento da eficiência por meio da forma e disposição dos departamentos e de suas inter-relações estruturais.
       Apesar de ambos conceberem a Escola Clássica há divergências em seus escritos, tais como as expostas, todavia há, além disso, pontos convergentes característicos do período histórico e da corrente de pensamento da abordagem clássica. As características mais marcantes compreendem o reducionismo que se baseia na crença de que todas as coisas precisam ser descompostas e reduzidas em seu componente básico ou indivisível; o pensamento analítico que consiste em decompor o todo, tanto quanto possível, em partes mais simples para posteriormente explicá-las e compor soluções para o todo; e o mecanicismo, princípio que se baseia na relação de causa e efeito entre dois fenômenos, sendo a causa indispensável e considerada determinística.
       Modernamente, as funções administrativas são representadas amiúde pelas áreas das organizações, ou seja, auferiram o conceito de departamentalização, representadas por produção ou operações; marketing ou comercialização; finanças (incluindo contabilidade); recursos humanos; e administrativas (CHIAVENATO, 2001). Dentre as funções essenciais supracitadas, cabe perscrutar a última, isto é, a administrativa, visto o enfoque recebido pela mesma na referida obra de Fayol. Tal ênfase deve-se ao fato desta função ser responsável por formular o Programa Geral de Ação da empresa, de constituir seu corpo social, de coordenar os esforços e de harmonizar os atos; ações estas que não condizem com as demais operações. Destarte, a administração é a função mor da empresa.
       Fayol (1990) discutiu em seus escritos a diferenciação entre direção e administração. A direção constitui-se dos esforços no mais elevado nível hierárquico, propondo-se a determinar os objetivos e promover sua realização pelo acionamento de recursos de qualquer tipo, seja humanos, materiais, financeiros, de informações, dentre outros. Enquanto que administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar, sendo que estes em conjunto formam o processo administrativo.
       Prever é planejar, investigar profundamente o futuro e traçar um plano de ação a médio e longo prazo a fim de preparar a empresa ante as adversidades e/ou oportunidades posteriores, sustentando-se no programa de ação proposto por Fayol (1990, p. 65) como “o resultado visado, a linha de conduta a seguir, as etapas a vencer, os meios a empregar; uma espécie de quadro do futuro, previsto para um certo tempo” elaborado continuamente com flexibilidade e precisão sem ferir os princípios da administração, contendo relações sobre os outros componentes da administração, tais como: comando, coordenação e controle, uma vez que o elemento previsão influencia todos os outros.
       A ausência de um Programa Anual Geral deforma o fluxo dos negócios, desse modo, a empresa que não usufrui deste instrumento administrativo está fadada ao reacionismo, limitando-se a proteção ou reação às adversidades do ambiente no qual a empresa está inserida. Logo, é imperativo ressaltar que Fayol não inferiu em seus estudos as variáveis externas as organizações e suas influências sobre as mesmas, haja vista que o pensamento predominante era analítico, reducionista, mecanicista (organização como sistema fechado) e determinístico, como fora abordado.
      Organizar é constituir um duplo organismo, montar uma estrutura humana e material dotada de tudo o necessário para viabilizar o empreendimento; comandar é conduzir e orientar o pessoal, mantendo o corpo social ativo em toda a empresa e usufruindo da melhor forma possível as habilidades de todos os agentes envolvidos, conhecendo-os profundamente, incentivando a união de todos e realizando conferências – que asseguram a unidade de direção e convergem esforços para objetivos comuns – e relatórios; coordenar é harmonizar todas as atividades e esforços por meio de conferências; controlar é assegurar para que tudo ocorra conforme o planejado e dentro dos objetivos organizacionais (C).
      Cabe ressaltar que além desses cinco elementos componentes da administração Fayol discutiu a coexistência de um elemento extra. Dispôs dirigir como um fator influenciador e que está acima, até mesmo, da função administrativa, pois dirigir é assegurar a marcha das seis funções essenciais da empresa. 
        Desse modo, pode-se inferir que, analogamente, dirigir atua como um condutor ou maestro que rege uma orquestra e cujo papel é indispensável para que se obtenha a harmonia das diversas sonoridades, dos diferentes instrumentos musicais. Em uma empresa, essa harmonia musical seria a sinergia entre os departamentos em prol do alcance dos objetivos organizacionais. Este paradigma da supervalorização de dirigir, proveniente do pensamento hierárquico vertical no qual há um enorme descompasso entre os administradores (chefes) e os executores (subordinados), contrapõe a administração contemporânea que tem como alicerce conceitos inovadores como a alta gestão e a administração participativa (MAXIMIANO, 2002).
REFERÊNCIAS
FAYOL, H. Administração Industrial e Geral: previsão, organização, comando, coordenação e controle. São Paulo: Atlas, 1990.

TAYLOR, F. W. Princípios da Administração Científica. São Paulo: Atlas, 1990.

Fonte: www. administradores.com.br (em 01/03/2009)

1 comentários:

Dayane disse...
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