BUROCRATIZAÇÃO

Desde o início da era industrial, a administração amplia continuamente seu domínio no cenário mundial. Espaços
antes comandados pela Igreja, pelos Estados e exércitos dão lugar à influência das grandes corporações. O pensamento baseado nos resultados (na pura racionalidade instrumental) não está mais restrito ao limite da fábrica, pois abrange escolas, hospitais e até igrejas. Cada vez mais o objetivo principal de qualquer organização
tem se pautado apenas pelo lucro, onde os trabalhadores representam “peças” a serem adaptadas ao bom funcionamento
da grande engrenagem. Ao mesmo tempo, é reforçada a ideologia que garante a contínua reprodução de idéias, afirma a igualdade e que cada indivíduo terá seu “sucesso” vinculado apenas ao próprio esforço.
Dessa forma, garante como idéias hegemônicas aquelas que reforçam a permanência dos mesmos interesses e dos mesmos “vitoriosos”.
A burocratização, tal como alertou Prestes Motta (1990; 1994), atinge todos os setores da vida social: a economia, a política, a cultura, a saúde e o lazer. A sociedade moderna transformou-se numa sociedade de organizações burocráticas submetidas a outras organizações burocráticas: o Estado, os órgãos de relações internacionais etc. Nessa sociedade, predomina uma população assalariada, integrada pela estrutura de cargos a organizações impessoais, onde o trabalho perde seu significado e se busca manter
o emprego em troca de segurança e conformismo. Os interesses e necessidades dos indivíduos são manipulados para aumentar o consumo e o desejo de ter. As organizações passam a ser o centro da
vida social e, mesmo organizações que se dizem democráticas (como partidos, sindicatos e cooperativas), estão presas ao modelo burocrático (MOTTA, 1994). Atrelados e protegidos por seus cargos e
conhecendo como funciona a estrutura, os indivíduos abandonam a participação ativa na vida social e passam a se defender e a fugir da responsabilidade de suas ações, atrelando isso à “neutralidade” de
seu cargo.
Em busca de “transformação”, novas propostas de organização têm surgido, tais como cooperativas, organizações de economia solidária e ONGs, que, embora tenham trazido inicialmente a idéia de uma
forma de atuação diferente, têm se mostrado mera reprodução do “modelo empresarial”, subordinando-se a este. Tal como alertou Prestes Motta (1990; 1994), permanece o modelo burocrático, mascarado de eficiente e impessoal, constituindo uma reformulação e um reforço ao capitalismo, pois dentro e fora dessas organizações prevalecem as relações de poder baseadas nas diferenças de classe. A burocracia permanece como forma de amenizar o conflito latente entre dominantes e dominados, possibilitando que todos acreditem participar ativamente da construção dos rumos da organização e do
bem-estar da sociedade. Crentes de sua participação, permanecem alienados, distanciando-se ainda mais de qualquer possibilidade de mudança e de real atuação (MOTTA, 1990).

Fonte: Fragmento do artigo: “Voltando para casa:(re)encontrando Guerreiro Ramos, Tragtenberg e Prestes Motta”, de Sidinei Rocha de Oliveira e Carolina da Silva Ferreira. Cadernos EBAP.BR V5, no. 1 Mar 2007.

0 comentários: