Resenha publicada na RAE - EAESP/FGV

É POSSÍVEL INOVAR EM MANUAIS DE TEORIA ORGANIZACIONAL?
Por :
Isabela Baleeiro Curado
Professora da FGV-EAESP
E- mail: icurado@fgvsp.br
MANAGING AND ORGANIZATIONS: AN INTRODUCTION TO THEORY AND PRACTICE
De Stewart Clegg, Martin Kornberger e Tyrone Pitsis
London: Sage Publications, 2005. 584 p.
A área de teoria organizacional está repleta de manuais, utilizados nas universidades americanas,
principalmente nos cursos de Organizational Behavior. Esses manuais geralmente seguem a mesma
lógica: uma introdução com um apanhado geral da história da Administração; alguns capítulos sobre o
ambiente externo da organização (forças ambientais, stakeholders, ética e responsabilidade social);
uma parte sobre planejamento (incluindo tomada de decisão); uma parte sobre organização (estrutura,
administração de recursos humanos, cultura e mudança); outra parte que aborda a dimensão da
liderança (motivação, trabalho em equipe, comunicação); e, finalmente, uma parte sobre controle. Uma
das características principais desses manuais é adotar uma abordagem funcionalista.
Pode-se observar, na última década, a publicação de manuais de teoria das organizações com
abordagens alternativas como, por exemplo, o pioneiro Imagens das Organizações, de Gareth Morgan;
o Organizing & Organizations, de Gabriel, Fineman e Sims; o Handbook de Estudos Organizacionais,
organizado por Clegg, Hardy e Nord; e o Organizational Theory, de Hatch. O manual publicado por
Clegg, Kornberger e Pitsis, Managing and Organizations, pode ser classificado no grupo de manuais
que buscam apresentar uma abordagem alternativa.
A proposta dos autores é apresentar uma nova abordagem ao processo de gestão por meio de um
texto reflexivo, equilibrando o que o leitor precisa saber e aquilo que ele gostaria de saber. Para tanto,
estruturaram os capítulos e o conteúdo oferecendo tanto a abordagem funcionalista quanto a abordagem
crítica.
Todos os capítulos, seguindo a lógica de um manual, apresentam nove itens: 1) o título do
capítulo e os objetivos de aprendizagem; 2) Outline of the Chapter, ou a apresentação do capítulo; 3)
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Setting the Scene, o contexto em que se insere o tema do capítulo; 4) Central Approaches and Main
Theories, as principais abordagens e teorias relacionadas ao tema; 5) Critical Issues, questões críticas,
que visam questionar a abordagem funcionalista dominante, apresentada na seção anterior; 6) The Fine
Print, numa alusão às letras pequenas que explicam os perigos potenciais de um produto, essa sessão
visa apresentar o conhecimento tácito que as abordagens dominantes utilizam sem crítica; 7) Summary
and Review, resumo do capítulo; 8) One More Time... apresenta um exercício; e, finalmente, 9)
Additional Resources, que apresenta leituras, filmes e outros recursos de apoio.
A obra está dividida em três partes: Making Sense of Management, onde é apresentada a história
e o campo da Administração; Managing Organizations, que aborda o presente e o cotidiano das e nas
organizações; e Managing Change, que enfatiza os desenvolvimentos futuros e o processo de mudança
organizacional. A primeira parte é subdividida em três capítulos. O objetivo principal do primeiro
capítulo, Making Sense of Management, é entender a origem da Administração moderna. Para tanto, os
autores apresentam a história da Administração e as idéias dos principais teóricos (Taylor, Fayol,
Mayo, Follett, para citar alguns). No segundo capítulo, Managing Rationalities, aborda as diferentes
racionalidades que influenciam o pensamento administrativo, principalmente a racionalidade
burocrática (Weber). O terceiro capítulo, Managing Realities, aborda teorias contemporâneas que
questionam o modelo burocrático.
A segunda parte do livro, Managing Organizations, apresenta alguns capítulos tradicionais dos
manuais: como gerenciar desenho, poder, comportamento, liderança, cultura e comunicação. A
diferença está no conteúdo e, em alguns momentos, na sua falta. O capítulo de desenho organizacional
apresenta diversas teorias contingencialistas – como as de Burns e Stalker, Woodward, Aston Project e
Mintzberg – para explicar o ajuste entre ambiente e desenho, sem apresentar os diferentes tipos de
estrututura. O capítulo de poder e política aborda como as organizações cumprem seus acordos por
meio das dimensões institucionais e estruturais das relações de poder, porém, na parte crítica, falta uma
abordagem sociológica – como Foucault – ou uma análise psicanalítica. O capítulo de comportamento
organizacional apresenta uma abordagem interessantes sobre valores universais (Schwartz) e várias
abordagens sobre teorias de personalidade – traços, sociocognitiva, psicoanalítica e humanista – e a
influência destes no comportamento organizacional. No capítulo de liderança são apresentadas as
teorias tradicionais de liderança, além das abordagens mais recentes, como a teoria transacional,
transformacional e carismática. Na discussão sobre cultura são apresentados, como teoria dominante os
níveis de cultura (Schein), a discussão sobre homogeneidade cultural (Hofsteade) e culturas fortes
(Peter e Waterman) e, na abordagem crítica, as perspectivas de diferenciação, integração e
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fragmentação. O capítulo sobre comunicação aborda os níveis de comunicação – didática, pequenos
grupos, organizacional e de massa – e explora a comunicação organizacional.
A terceira parte do livro, Managing Change, propõe analisar os desafios que as organizações
enfrentam atualmente, quais sejam, gerenciar conhecimento e aprendizage m, inovação e mudança,
estratégia e globalização. O capítulo sobre conhecimento e aprendizagem aborda as diferentes fontes e
os diferentes tipos de conhecimento, o processo de aprendizagem organizacional, os processos de
colaboração e as comunidades de prática como forma de conhecimento e aprendizagem. A discussão
sobre inovação e mudança aborda a mudança planejada (como em Lewin, Hammer e Champy) e a
mudança processual (Pettigrew) e a relação entre inovação e caos (Pascale, Weick), e apresenta as
questões políticas, relacionais e mercadológicas dos processos de inovação e mudança. O capítulo de
estratégia apresenta as diferentes escolas (como Chandler, planejamento estratégico, desenho,
posicionamento), o processo de construção de cenários estratégicos, a abordagem de competências e o
conceito de estratégias emergentes. Finalmente, no capítulo sobre globalização são abordados os
principais desafios que as empresas precisam adotar ao assumir uma postura de pensar globalmente e
agir localmente, analisando os fluxos globais de dinheiro, pessoas, conhecimento e política.
O ponto forte do livro é a relação entre as abordagens dominantes e a abordagem crítica,
apresentada de forma didática. Em todos os capítulos são apresentadas diversas imagens e, no subtítulo
destas, comentários relacionados ao tema abordado no capítulo e perguntas provocadoras. A seção de
recursos adicionais, apresentada no final de cada capítulo tem dicas muito úteis sobre filmes, livros e
músicas que podem ser utilizados para melhor entender o processo de gerenciamento das organizações
ou as teorias abordadas. Outro recurso muito interessante é o sítio do livro (www.ckmanagement.net),
que oferece casos, links, vídeos e exercícios.
Com origens diferentes – Clegg é inglês, Kornberger, austríaco e Pitsis, australiano – os três
autores são professores e pesquisadores de instituições de ensino australianas. Isso faz com que o
manual apresente vários exemplos da realidade organizacional desse país, o que, para o meio
acadêmico australiano, é uma grande vantagem. Para leitores de outros países, alguns exemplos
apresentados estão muito distantes dos exemplos administrativos mais conhecidos.
A análise de um manual nos traz sempre a questão se dá para adotá-lo nos cursos que
ministramos e, caso seja possível sua adoção, em quais cursos. O manual pode ser utilizado num curso
de gestão, tanto para alunos de graduação quanto de pós-graduação lato sensu. Para as disciplinas mais
tradicionais dos cursos de graduação em Administração o conteúdo apresentado é incompleto. Para as
disciplinas introdutórias dos programas de pós-graduação lato sensu o conteúdo está mais adequado.
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Independente da adoção ou não, é um ótimo livro de referência, por apresentar os mesmos temas de
sempre de uma forma diferente.

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